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Crescer é sentir: uma leitura psicoembriológica de Divertida Mente

  • Foto do escritor: julianadiaspsicoem
    julianadiaspsicoem
  • há 7 dias
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 57 minutos

Divertida Mente parece, à primeira vista, uma animação leve sobre emoções. Mas quem assiste com sensibilidade — ou olha para o desenvolvimento humano com uma lupa — percebe que o filme é, na verdade, um retrato muito preciso do mundo interno de uma criança em pleno processo de reorganização emocional.


A protagonista, Riley, tem 11 anos e atravessa uma mudança difícil: deixa sua vida conhecida em Minnesota e se instala com a família em San Francisco. A mudança externa funciona como um gatilho para a mudança interna — algo que todas as crianças, e muitos adultos, conhecem bem.


Dentro da mente de Riley, vemos a convivência das cinco emoções principais: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho. Cada uma representa não apenas um estado emocional, mas uma função psíquica essencial.A Alegria tenta manter tudo “no eixo”. A Raiva reage impulsivamente às frustrações. O Medo protege. A Nojinho cria limites e filtros. E a Tristeza, tão desconfortável no início, é quem oferece profundidade, integração e verdade emocional.


O que torna o filme tão especial é justamente isso: a forma como ele mostra que todas as emoções têm uma função — e que silenciar uma delas, especialmente a Tristeza, cria um desequilíbrio que repercute no corpo, no comportamento e nos vínculos.Riley começa a adoecer emocionalmente não porque sente “demais”, mas porque tenta não sentir o que é inevitável.


Ao longo da história, fica evidente como momentos de transição — mudanças de cidade, rupturas, perdas, ambientes novos — desorganizam provisoriamente o psiquismo. Isso é esperado. É humano. É parte do desenvolvimento.


E aqui surge um ponto de reflexão importante, especialmente para quem ocupa o lugar de cuidador:as emoções de uma criança não existem no vácuo. Elas reagem ao ambiente, às expectativas, ao estado emocional dos pais e às histórias que circulam na casa. O filme mostra, de forma sensível e precisa, como a experiência emocional de Riley está profundamente ligada à experiência emocional de sua família.


Para quem se interessa por psicoembriologia, esse ponto é ainda mais profundo: antes mesmo de nascer, já percebemos, absorvemos e organizamos emoções que não são só nossas. Em Divertida Mente, vemos a continuação desse processo — agora visível, narrado e animado — na vida de uma menina que tenta entender quem é diante de tantas mudanças.


No final, o filme nos lembra que não existe desenvolvimento emocional saudável sem espaço para a complexidade.Não existe alegria plena sem a presença respeitada da tristeza.Não existe maturidade sem a possibilidade de sentir o que é difícil.


Divertida Mente é uma obra que vale ser revista em diferentes fases da vida. A cada novo ciclo — uma mudança, um luto, uma chegada, uma transição de identidade — ele nos devolve insights diferentes.Talvez porque, como Riley, todos nós estamos tentando reorganizar nossas ilhas internas, dar nome ao que sentimos e encontrar um lugar possível entre aquilo que fomos e aquilo que estamos nos tornando.

 
 
 

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